poéticas indígenas em tradução
programa
Este curso apresentará algumas poéticas indígenas tradicionais em tradução (kĩsêdjê, krahô, guarani, marubo e iorubá), como mote para pensar outros modos de entender as artes verbais a partir de cosmologias e modos de vida distintos. 1. Apresentação geral dos temas e desafios. Abordar o que chamamos de poesia indígena tradicional é já partir para o problema de determinar o que é poesia e qual o sentido das artes. A primeira conversa pretende deslocar os pressupostos gerais da estética ocidental e reconhecer também as diversidades em cada povo originário, sem pretensão de fazer uma só poética indígena. 2. Rothenberg e Tedlock diante das vozes vivas. Dois poetas, editores e antropólogos norte-americanos buscaram enfrentar o desafio primeiro de dar uma forma editável e traduzível às poéticas vocais indígenas que eles tiveram a oportunidade de conhecer. 3. Perder o espírito entre os Kĩsêdjê. Apresentaremos a complexa relação entre uma cosmovisão que podemos associar ao perspectivismo ameríndio e uma produção de cantos incessante que parece entender a tradução como fonte e vinculação xamânica entre povos de humanos, animais, plantas, águas e espíritos. 4. O canto da machadinha e os cantos de maracá entre os Krahô. Os cantos krahô em duas frentes diversas mostram que um mesmo povo não produz apenas uma poética, mas estabelece convívios de práticas muito distintas em performance, forma, conteúdo e sentido. 5. O Ayvu rapyta guarani. O canto cosmogônico dos Guarani-Mbyá já recebeu algumas traduções que podem servir como ponto de partida para o debate sobre a variedade de abordagens, interpretações e ressignificações de um texto estabelecido recentemente, mas que parece ser antiquíssimo em transmissão vocal. 6. Um excurso iorubano: cantigas e oriquis. Vamos ver muito rapidamente uma cosmovisão bastante distinta, fora da horizontalidade do xamanismo e do perspectivismo. Um mundo diverso certamente precisaria produzir cantos diversos. * Guilherme Gontijo Flores é poeta, tradutor e professor na UFPR. Publicou a tetralogia Todos os nomes que talvez tivéssemos (2020), e também carvão :: capim (2017, Portugal; 2018, Brasil), Arcano 13 (2022, em parceria com Marcelo Ariel) e Potlatch (2022), além do romance História de Joia (2019). Publicou traduções de várias obras, tais como A anatomia da melancolia, de Robert Burton (4 vols. 2011-2013, prêmio APCA e Jabuti de tradução), Elegias de Sexto Propércio (2014), Safo: fragmentos completos (2017), entre outros.